O vinho na História

22-03-2025
O vinho é um produto típico da civilização ocidental, tendo chegado a atingir dimensões históricas notáveis, integrando na sua cultura, tradições e costumes ao longo dos séculos. Camilo José Cela, com o seu humor e ironia habituais, retrata-o muito sinteticamente: «William Congreve, dramaturgo inglês que viveu nos séculos XVI e XVII, dizia que beber era uma diversão cristã, desconhecida dos turcos e dos persas. Desse modo, os cristãos possuem o consolo de beber vinho, prazer vedado à moirama. Segundo a opinião de P. Sirmond, há cinco causas que podem incitar ao seu consumo, a saber: a celebração da chegada de um amigo, a sede do momento que se deseja saciar, a sede futura que se quer evitar, a bondade do vinho que se quer reter ou qualquer outro motivo não previsto nos anteriores».
Aparentemente a vinha crescia já no Miocénio - terceiro período da Era Terciária - na Europa Ocidental. Restos de folhas de videira apareceram em fósseis próximo de Montpellier; e em Castiona (Parma) encontram-se grainhas de uva em patamares Meslíticos (M. Toussaint-Samat).
Não obstante, Néstor Lújan considera que vinhas não são sinónimo de vinho. Com efeito, tratava-se de videiras prae-viniferas silvestres: as mesmas que possivelmente cobriam a área central do hemisfério boreal, uma região temperada que se fracionou quando se separaram os continentes. Não existem provas de que alguém extraísse o sumo das suas uvas ou as deixasse fermentar antes dos sumérios. Lújan, seguindo o norte - americano Kramer, considera que a história do vinho começa da Suméria, tratando-se já de vitis vinifera a videira cultivada para o mostro. Apesar de tudo, o primeiro dado certo situa-se no Egipto do sétimo milénio antes de Cristo, quando surge no túmulo de um faraó uma estatueta que representava um escravo com um jarro de vinho, apesar de a bebida habitual no antigo Egipto ser uma espécie de cerveja.
A pergunta «Quem inventou o vinho?» é respondida por Maguelonne Toussaint da seguinte forma: «Todos e ninguém entre o mar Negro e o Golfo Pérsico (...) à medida que as populações foram evoluindo para a agricultura e a vida sedentário, ou seja, de finais do sexto milénio e meados do quarto, o cultivo da vinha e a sua exploração progrediram através da Ásia Menor até chegar ao Egipto».
A partir daí, o vinho chegou até à Fenícia e a Creta; mais tarde, por sua vez, à Grécia, à Sicília, ao sul de Itália e à Líbia.
A costa provençal e ibérica parecem dever o seu cultivo aos gregos da Ásia Menor (foceus). Porém, chegou mais longe ainda: à Índia através da Pérsia e à Grã-Bretanha com os romanos.
Foram eles os que mais fizeram pela sua difusão, plantando vinhas em todos os territórios ocupados onde as pudessem desenvolver.
Na Idade Média, primeiro com Carlos Mango e mais tarde com as ordens monásticas, a videira e o vinho propagaram-se por toda a Europa. Porém, convém salientar que, como assinala Luján, «antigamente o sumo da videira fermentado não era mais do que uma base alcoólica para as mais prodigiosas misturas», pois embora atualmente se entenda que o vinho como um produto da videira, sem misturas que o desvirtuem há que recordar que «esta emntalidade surge a partir de finais so século XVIII. Luís XIV por exemplo bebia ainda o rossoly mistura arrepiante de esperiarias e perfumes».
Na Grécia clássica era normal juntar água ao vinho, enquanto os romanos gostavam de misturá-lo com mel, especiarias e outros vinhos. «Na Idade Média a total carência de higiene e a ausência de conhecimentos enológicos determinam que o bom vinho fosse mero produto do acaso e, mais ainda, se não fosse consumido rapidamente, alterava-se em poucas semanas», como explica o enólogo e estudioso Miguel Torres.
É a partir de então que começam a consilidar-se como países produtores de vinho aqueles que ainda hoje estão à cabeça da tradição: França, Espanha, Itália, Portugal, Alemanha.. O que não impede, porém, que de há uns anos a esta parte, tenham surgido nos mercados mundiais produtores como os EUA (em particular os estados da Califórnia e de Washington), o Chile, a Argentina, a Austrália ou a África do Sul.
Em face disto, Fernand Broudel tem toda a razão quando escreve «Fora da Europa o vinho seguiu os europeus». Têm também razão os homens da Grécia Clássica que consideravam o vinho a mais civilizada de todas as bebidas. Não há hoje grandes dúvidas de que continua a sê-lo, sem rival visível no horizonte.

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